O verdadeiro dossiê da Lava Jato
O Jornal GGN de hoje divulgou o artigo “O xadrez da Polícia Federal na era das corporações”, no qual relata fatos vividos pelo Jornalista Luis Nassif, a partir dos anos 90. A matéria constitui um verdadeiro dossiê da Lava Jato e de outras investigações da PF, ao revelar fatos graves e contundentes dos bastidores da Polícia Federal que envolvem diretamente os Delegados Federais Márcio Anselmo (da Lava Jato) e Fernando Francischine (exerce o cargo de Deputado Federal), bem como o Senador Humberto Costa e o então Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso. O delegado Francischine chegou a divulgar na imprensa: “Colocamos o Governo de Joelhos”.
Vejam os principais trechos da matéria:
Nesse período, houve uma completa reformulação da Polícia Federal. Novos equipamentos, novos métodos de investigação e, principalmente, uma liderança serena e segura de Paulo Lacerda, que incutiu um orgulho extraordinário na força. Na época, conversei com um consultor contratado para trabalhos de gestão na PF. Na hora de definir o objetivo, houve consenso: em 20 anos ter o mesmo nível do FBI.
A PF ganhou equipamentos de ponta, aprendeu a fazer gestão, aprimorou seus métodos de investigação e, principalmente, teve acesso a parcerias internacionais armadas até os dentes com as novas tecnologias. A prisão do comendador Arcanjo – chefe da contravenção do Mato Grosso – foi um feito extraordinário. Através do GPS, o FBI orientou os agentes até o cômodo da casa onde Arcanjo se escondia.
Como consequência natural, a nova Polícia Federal – assim como o Ministério Público Federal (MPF) – quis testar a musculatura adquirida.
Houve tentativas iniciais de invasões de escritórios de advogados. Depois, Operações de nomes vistosos, algumas discretas e bem-sucedidas – como a da Daslu -, outras polêmicas e conflituosas, como a Satiagraha e a Castelos de Areia.
Dois episódios liquidaram com essa lua-de-mel.
O primeiro, a maneira como o governo Lula atuou no caso Satiagraha, humilhando a grande referência da PF – Paulo Lacerda, na época na ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) – e os delegados da Satiagraha. Salvou o PSDB e gerou um ódio mortal na corporação.
A segunda, a indicação de José Eduardo Cardozo para o Ministério da Justiça.
Cardozo montou uma estratégia fatal.
Na parte administrativa, deixou a PF às moscas. Não implementou um programa sequer.
No auge da guerra contra a TelexFree – o maior golpe já aplicado contra brasileiros na história – depois de muito cobrar a participação do Ministério da Justiça, Cardozo acabou me colocando em contato com um alto quadro da PF. A primeira frase da autoridade: “Senhor jornalista, quando vier a Brasília vamos conversar para contar o que o Ministro está fazendo com a PF”.
Para manter-se no cargo sem ser incomodado, Cardozo entregou todos os anéis e dedos para a corporação, trouxe cerca de dez policiais federais para sua assessoria, garantiu à tropa a ampliação do poder, mantendo a presidente desinformada sobre a marcha do golpe. E há suspeitas de que tenha sido responsável por parte dos vazamentos que inundaram a imprensa no período.
Semanas atrás, policiais da PF fizeram chegar à Casa Civil um material que mostraria aparelhamento da Lava Jato pelo PSDB do Paraná (observação nossa: é importante ressaltar que essa afirmação colocada pelo articulista é imprecisa. Como já exposto em nota oficial do Sindipol/DF, a reunião com o Ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, teve como objeto tratar de demandas da categoria). Junto com o material, o alerta para não passar o material para o Ministério da Justiça, “senão mela”. Dias depois o dossiê saiu publicado na revista Veja. Questionadas, as fontes da Casa Civil confirmaram que o MJ havia tido acesso aos documentos. Pode ter sido coincidência; pode ser que não.
Outra figura chave foi o líder do governo no Senado, senador Humberto Costa. Apanhado na Operação Sanguessuga, Costa fechou um pacto político com a PF, ajudando a aprovar um conjunto de leis que permitiu à PF um emponderamento inédito.
A lei 12.830 garantiu controle total sobre inquérito policial. Agora, tudo passa pela PF, desde inquéritos do IBAMA, INSS. Imagine-se um delegado comandando 400 investigações.
Outra foi a lei 12.850, de combate ao crime organizado e à delação premiada. Em qualquer país do mundo, a delação é acompanhada pelo Ministério Público. A nova lei dá agora essa exclusividade aos delegados.
Costa e Cardozo tiveram papel central na aprovação dessas duas leis. E se aliaram aos delegados nas discussões sobre a MP 650, que pretendia definir uma carreira única para o órgão.
Na verdade, os delegados colocaram uma faca no pescoço do governo e saíram vitoriosos.
A faca, no caso, foi um bilhete manuscrito de Alberto Yousseff que continha um mero “Dilma 17 viagem”. O bilhete apareceu em abril de 2014 e não foi encaminhado à Procuradoria Geral da República, ficou nas mãos dos delegados.
Apenas no último dia 11 de março uma reportagem da revista IstoÉ (http://migre.me/tnH8O)relatou parte da história. Segundo a revista, a contadora de Yousseff, Meire Poza, contou que, ao tomar conhecimento do bilhete, o delegado Márcio Anselmo vibrou: “Que coisa maravilhosa! “. Os documentos foram guardados no porta-malas de uma Range Tober Evoque apreendida pela Lava Jato, e que ficou a serviço da PF, e só reapareceram agora.
Teria sido esta a arma da qual se valeram delegados para forçar o governo a aprovar a MP 657/2014, tornando privativo de delegados de classe especial o cargo de diretor-geral da PF (http://migre.me/tnHnd). Em apenas duas semanas, a MP virou a Lei 13.047.
O feito foi comemorado pelo deputado e delegado Fernando Franceschini, que se vangloriava de ter botado “o governo de joelhos” (http://migre.me/tnHu1).
O ponto final foi o pacto em torno do helicóptero do senador Zezé Perrela, aliado e amigo de Aécio Neves, transportando 450 quilos de cocaína. O abafamento do caso teria sido fruto de um acordo entre a banda tucana da PF, em troca de segurar a Operação Acrônimo, que envolvia o então candidato ao governo de Minas, Fernando Pimentel. Chegou-se ao feito inédito de um delegado da PF soltar uma declaração inocentando Perrela, fato sem precedentes na história da PF.
Ainda não se contou a influência do tráfico na política brasileira. Mas essa é outra história.
Esse é o mundo sem corrupção criado nas fantasias alimentadas pela Lava Jato, a partir do momento que escolheu lado.
Leia a matéria na íntegra: http://jornalggn.com.br/noticia/o-xadrez-da-policia-federal-na-era-das-corporacoes
De fato, os delegados da PF conseguiram do governo a edição da Medida Provisória 657 que sequer foi discutida nas comissões e foi aprovada em duas semanas, tempo recorde nunca antes visto na Câmara e Senado. A MP se transformou na lei 12.830 que garantiu aos delegados o controle total sobre inquérito policial, atribuiu as funções de delegado como de natureza jurídica e ainda lhes concedeu as prerrogativas de terem o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados. Com essa Lei os delegados de polícia, integrantes do Poder Executivo, passaram a exigir que sejam chamados de “excelência” pelos demais policiais, inclusive sob ameaça de punição disciplinar em caso de descumprimento. Essa lei é objeto de três Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF (ADI 5043, ADI 5059 e ADI 5073).
O Senador Humberto Costa tem lotado em seu gabinete um delegado da Polícia Federal há vários anos e mesmo sendo médico, tem assumido a relatoria de vários projetos de Lei e de PECs relativos às Polícias, especialmente as que buscam melhorias como carreira única e ciclo completo que não interessam aos delegados e em todas eles consegue travar a tramitação.
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