Tudo o que você precisa saber para inviabilizar o seu sindicato.

Valacir Marques Gonçalves*

Depois da caça às bruxas, dos constrangimentos vários, das perseguições a sindicalistas e da demissão do presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Roraima, percebi que muitos companheiros estão desiludidos, achando que a batalha está perdida. Alguns aproveitam este desânimo para desestimular a todos com conversas e atitudes que nada ajudam a construir. Para alertar quem ainda não percebeu, divulgo abaixo idéias conhecidas, já surradas, que estão sendo utilizadas na tentativa de enfraquecer a nossa luta. Elas são utilizadas, também, na tentativa de desestabilizar as nossas entidades sindicais, de minar a nossa resistência, de abusar da nossa inteligência. Qualquer semelhança com o trabalho desenvolvido por pessoas vivas, mortas ou muito vivas, não é mera coincidência, é inevitável... Leia com atenção:

Não freqüente a sede do Sindicato e, quando lá comparecer pergunte logo: o que tem aí de novidade - dinheiro? Se não houver novidade, procure algo para reclamar. Sempre tem. Se não tiver, mesmo assim reclame. Invente um atendimento demorado, critique a mensalidade, diga que está alta ou muito baixa, uma cara feia, um café frio ou até mesmo repita que, por telefone, poderiam atender todo tipo de solicitação.

Ao participar de qualquer atividade, encontre apenas falhas no trabalho de quem está lutando para acertar, diga que a diretoria é muito devagar. Afinal de contas, você sempre faria melhor do que está sendo feito. Diga que novos procedimentos podem ser adotados, sem nomeá-los, claro...

Não aceite incumbência alguma. É mais fácil criticar do que fazer, mas lembre-se que não deve colocar sua "competência" em risco. Fique na moita, espere os acontecimentos. Gaste seu tempo pensando na crítica, que deve ser repleta de argumentos, mesmo que sejam vazios, como de costume.

Quando a Diretoria do Sindicato solicitar sua opinião, diga que não tem nada para falar e depois fale tudo o que vem na cabeça para outras pessoas. Para que apresentar críticas construtivas? Opiniões devem ser apresentadas para pessoas que não fazem parte da Diretoria, que não possam ou não queiram mudar nada.

Faça apenas o absolutamente necessário e, quando outros fizerem algo a mais, diga que o Sindicato é dominado por um grupinho, que é uma panela, sempre tem gente que acredita nisso. Não corra o risco de ser convidado para fazer parte do tal grupo. Vai pintar trabalho toda hora. Não deixe ninguém perceber que você não é chegado...

Não empreste sua solidariedade aos companheiros perseguidos e demitidos pela administração em virtude de greves, principalmente. Acredite naquela história que o "chefe bonzinho" falou: se eles estão sendo punidos, é porque são indisciplinados, folgados e outras bobagens do tipo.

Não leia as comunicações do Sindicato. Alegue que elas não trazem nada de interessante ou diga que não as recebeu. Convença a todos que somente notícias sobre aumento de salário ou que informem o pagamento de algum atrasado são importantes. O resto é perda de tempo, papo furado...

Apóie sindicatos que se desfiliam da Federação. Acredite que tais atitudes, tomadas por duas dezenas de sindicalistas num universo de centenas são necessárias e têm o apoio de toda a categoria. Finja que acredita quando eles dizem que a Federação é a culpada pela não conquista do nível superior. Acredite que se fossem eles que estivessem à frente da entidade, teriam conseguido. Finja que não sabe que eles faziam parte do comando de greve da Federação que se desfiliaram.

Caso seja convidado para algum cargo eletivo, não aceite. Diga que não tem tempo e depois afirme que existem pessoas que não querem largar o poder. Diga que você só tem interesse em posições chaves, de preferência, de vice-presidente para cima, o resto é assessoria...

Quando a categoria resolver que todos só devem viajar com diárias antecipadas, como manda a lei, alegue que isso é muito difícil. Deixe claro que você vai continuar viajando sem diárias, pois está precisando muito de dinheiro, que tem contas a pagar, que é viciado em comida de avião, que as diárias fazem parte do seu orçamento, que não pode desagradar o chefe...

Acredite que o jurássico e inútil inquérito policial dá força para a polícia, como afirmam muitos. Finja que não sabe para quem ele dá força... Acredite em gente que fala para você que é a favor do pagamento de remuneração de nível superior para todos, mas não defende isso publicamente. Finja que não sabe que eles são contra em reuniões reservadas.

Quando houver qualquer divergência na Diretoria, apóie logo um dos lados e crie toda ordem de boatos. Optar por uma facção é irrelevante. O importante é a fofoca, é fazer os caras brigarem, de preferência, porrada mesmo...

Acredite que esta política de convocar apostilados para assumirem cargos importantes é benéfica. Que se não for adotada, a Polícia Federal vai sofrer com a falta destas pessoas imprescindíveis e necessárias para as atividades policiais e administrativas. Faça de conta que acredita que os mesmos só voltam por idealismo...

Sugira, insista e cobre a realização de "eventos" pelo Sindicato. Sugira as coisas mais enjoadas, aquelas que só são boas no papel e, na prática, são maçantes, desnecessárias e não levam a nada. Não participe. Depois, diga que tinha pouca gente. Que o Sindicato está perdendo força, que não consegue aglutinar ninguém.

Não preencha qualquer questionário do Sindicato quando ele solicitar sugestões. Caso a Diretoria não adivinhar suas expectativas, chame-a de incompetente. Preencher questionários? Não corra esse risco! Responder perguntas é perigoso. Podem aparecer boas idéias e a entidade acatar.

Finalmente, caso o Sindicato fracassar com essa sua fantástica cooperação, estufe o peito com o orgulho de quem sempre tem razão e brade: Eu não disse? Esse conselho nem precisava, mas sempre é bom lembrar. O "Eu não disse?" é clássico, não pode faltar.

Finalmente, se você é contra tudo isso que foi comentado, lute, se alie ao seu Sindicato. A nossa luta não terminou. Somos uma categoria com exigência de nível superior para ingresso, nossa remuneração precisa ser corrigida. A Lei Orgânica precisa ser implantada com uma carreira com início, meio e fim. Acredite que a Polícia Federal não tem donos.

A POLÍCIA FEDERAL SOMOS NÓS!

Valacir Marques Gonçalves é jornalista e Bel.em Direito
e-mail: vala1@uol.com.br

Fonte:Site Fenapef.

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