A morte que "não existe": o suicídio entre policiais
No Brasil, na década de 2000, mais de um milhão e meio de pessoas morreram por acidentes, homicídios e suicídios (mortes violentas). No período de 2000 a 2012, 1.703.499 brasileiros foram vítimas de mortes violentas, sendo 112.506 “lesões autoprovocadas voluntariamente”, em outras palavras, mortes por suicídio. O suicídio ainda é um tabu para a população brasileira, apesar do seu crescimento continuo. Pouco se conhece, muito pouco se discute.
Pesquisas internacionais, apontam os policiais como um grupo de risco com relação ao suicídio, ou seja, estão mais expostos ao fenômeno do que a população em geral. Inúmeras razões ajudam a explicar essa exposição, uma delas é a facilidade de acesso às armas de fogo. Somam-se a isso, questões laborais como jornadas de trabalho intensas e estressantes, além de uma cultura policial fortemente hierarquizada.
A pesquisa que realizamos na Polícia Militar do Rio de Janeiro revelou que na PMERJ o diferencial das taxas de suicídio de policiais e da população é expressivo. O risco de morte por suicídio entre profissionais de segurança da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro em 2009 foi 6 vezes superior ao da população geral. Outros estudos também vêm discutindo o suicídio em forças policiais. Em 2013, a Revista Isto É publicou uma reportagem especial sobre os suicídios na Polícia Federal. No ano de 2011, foram registrados 12 casos de suicídios na PF. A Policia Federal contava um efetivo de aproximadamente 13 mil policiais neste ano.
Nos últimos cinco anos, já se registram 24 casos. De acordo com levantamento feito pela Federação Nacional dos Policiais Federais, em 2015, se a Polícia Federal fosse um país, considerando o mesmo grupo de 100 mil habitantes, assumiria a 7ª colocação em casos de suicídios (dentre os servidores ativos), com 27,02% de ocorrências, uma média de quatro registros por ano.
Um estudo sobre a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) registrou 59 casos de suicídios consumados e 86 tentativas de suicídio em sua corporação, somente no período de 2010 a 2012. Seu efetivo era de 91.766 policiais militares na ‘época. Quando pesquisados na internet, somente foram encontrados 7 desse total de 59 casos. Essa defasagem também é verificada nos casos da Polícia Federal.
Podemos explicar essa invisibilidade por dois possíveis fatores. O primeiro pelo clássico Efeito Werther – “Quando os suicídios aumentam” devido a mídia e a exposição sensacionalista. David Phillips chamou de “Efeito Werther”, referindo-se ao personagem da obra homônima de Goethe, publicada em 1774, em que o protagonista se suicida por conta de um amor frustrado. Desde então, suspeita-se que a exposição de casos de suicídio na mídia venha provocar uma histeria social, seja pela existência de uma carta suicida denúncia, seja pela ocorrência de homicídio seguido de suicídio, seja pela indignação dos familiares e colegas pela perda de alguém estimado.
A segunda chave explicativa deste tabu em torno das mortes por suicídio entre policiais são questões socioculturais e políticas. Estudos internacionais esclarecem que uma das razões da invisibilidade do fenômeno deve-se à cultura hierárquica e autoritária da polícia.
Embora o suicídio entre os profissionais de segurança permaneça invisível aos olhos dos gestores públicos e da população brasileira, o sofrimento psíquico e emocional de policiais tem ocupado cada vez mais espaço no debate público e na mídia. Esse é mais um desafio a ser enfrentado pelos nossos executivos estadual e federal e chefes de Polícia a médio e a longo prazo.
Grupo de Estudo e Pesquisa sobre suicídio e prevenção (GEPESP) para MUDAMOS
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