Eu queria uma Polícia que tivesse sua existência pautada em treinamento e aperfeiçoamento, coisas que salvam a vida, não apenas do policial, mas do cidadão comum e dos próprios indivíduos que infringem a lei.
Eu queria uma Polícia objetiva, com sistemas de investigação minimamente eficientes, que levem a elucidação de crimes com níveis aceitáveis. Hoje temos que conviver com índices de eficiência menores que dez por cento, coisa que nos nivela a países sitiados pela barbárie.
Eu queria uma Polícia com estrutura moderna, com ciclo completo, plano de carreiras, sem a aberração chamada “concurso para chefe”, sem precedentes no mundo civilizado. Apenas no Brasil policiais com anos de experiência, boa formação intelectual, por vezes detentores de títulos como mestrado e doutorado, são chefiados por neófitos recém egressos dos bancos da universidade. O mesmo ocorre com a secular tradição das escolas de formação de oficiais, que tiram do policial de origem humilde e de boa fé, a possibilidade de, através do mérito e esforço próprio, galgar degraus para atingir postos de comando na corporação.
Eu queria uma Polícia que fosse realmente cidadã. Que não fosse um reflexo da sociedade que a mantém e que possui olhar diferenciado para o homem, dependendo de suas posses e do local onde mora. Queria uma Polícia que tivesse como premissa única a manutenção da lei e da ordem e não servir como cão de guarda de uma pequena parcela da sociedade.
Eu queria uma Polícia nas quais os gestores se preocupassem de fato com as necessidades do povo a quem servem. Muito diferente do corporativismo insensato e selvagem que visa quase que exclusivamente a manutenção de status e poder, o que acaba por afastar as instituições de segurança brasileiras do que é considerado eficiente no mundo.
Eu queria uma Polícia que não se debatesse na areia movediça da burocracia pré-colonial da peça chamada inquérito policial. De forma quase surreal, muitos desses inquéritos, que são os instrumentos usados pelos bacharéis da investigação, arrastam-se por anos a fio, sendo possível encontrar em algumas unidades, muitas “pastinhas azuis” com mais de uma década de instauração.
Por fim, eu queria uma Polícia que parasse de mentir para todos. Inclusive para nós, seus próprios integrantes. Que a pirotecnia e as ações midiáticas ficassem para trás, que a postura meramente reativa desse lugar a ações sérias de prevenção em todas as suas esferas e que sua gestão parasse de ser nociva para a maior parcela da sociedade.
Enquanto espero pelas mudanças, a maioria absoluta dos policiais do Brasil faz a sua parte, que, mesmo imersos no caos, é proteger cada um de vocês que leem estas linhas.
O policial federal Sandro Araújo é responsável também pelo projeto social Geração Careta e fala sobre segurança pública e o crescimento da violência em todas as esferas da sociedade