Que polícia é essa?
O delegado Luiz Fernando Corrêa vai entrar para história da Polícia Federal como o diretor-geral que assumiu o cargo com apoio da maioria dos servidores e irá sair com mais de 80% de rejeição. Sim, o plebiscito realizado pela Federação Nacional dos Policiais, do qual participaram quase 2.500 servidores da PF, mostrou que o DG é amplamente rejeitado pelos seus “comandados”.
Mas engana-se quem vê o índice de rejeição do delegado Luiz Fernando apenas como resultado de sua administração. Os mais de 80% de rejeição são também o sintoma de uma polícia com servidores desmotivados e sem a devida valorização de suas funções dentro do órgão.
Para confirmar esse quadro, o diretor não precisa ir muito longe. Se desembarcar em São Paulo, o delegado irá ver funcionários terceirizados executando trabalho que seria de policiais federais e dos servidores do Plano Especial de Cargos da Polícia Federal. “Infelizmente hoje estamos esquecidos pelo DPF e pelo governo, que sequer encaminhou nossa reestruturação da carreira”, desabafou um colega há poucos dias.
Mas se o diretor quiser ir para a Amazônia, na qual disse que faria uma revolução, não encontrará um quadro muito diferente. Ao invés de investir na Polícia Federal que não aparece no "Jornal Nacional", a atual gestão optou pela centralização de recursos, deixando de lado a função constitucional da PF de guardar nossas fronteiras. A Operação Cobra, por exemplo, criada há dez anos para combater o tráfico na fronteira do Brasil com a Colômbia, está morrendo à míngua.
Criada em 2000, a operação teve no seu auge mais de 100 policiais. Hoje, são apenas 20 heróis responsáveis por combater narcotráfico, contrabando, descaminho e até mesmo os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
De 2008 para cá, cinco dos nove postos da Polícia Federal na fronteira foram fechados. Uma décima unidade, prevista no início da operação, nunca foi implantada.
A situação mereceu uma advertência do comandante militar da Amazônia, general Luís Carlos Gomes Mattos, ao dizer que que o Estado brasileiro (leia-se PF) precisa investir mais na vigilância das fronteiras na Amazônia. Em entrevista ao jornal "Estado de S. Paulo", o militar admitiu que guerrilheiros das Farc invadem com frequência o território nacional. Uma vergonha!
Outra “marca” da administração do atual diretor-geral e seus diretores é o tal plano de gestão para a PF do século XXI. Na teoria, esse seria um plano que, segundo o próprio diretor, incentivaria à meritocracia. Na prática, a meritocracia vale somente para uma classe: a dos DELEGADOS SEGUIDORES DA ATUAL ADMINISTRAÇÃO. Para os servidores administrativos, agentes, escrivães e papiloscopistas sobram as migalhas. Para os policiais mais antigos não sobra nada.
O índice de evasão dos quadros da PF é grande. Agentes, escrivães, papiloscopistas e, principalmente, servidores administrativos estão saindo e procurando outros ares. O próprio diretor-geral, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, disse que é preciso valorizar os servidores, sob pena de a PF continuar perdendo seus quadros.
Mas entre o que o diretor fala e a prática existe um abismo. Muito próximo de acabar sua gestão frente à PF, o DG não dá nenhum sinal de que irá modificar suas ações e, em especial, o modo como pensa a tal Polícia Federal do século XXI. A nós servidores resta torcer para que o tempo voe e o doutor Luiz Fernando se transforme numa página virada da história da Polícia Federal.
Francisco Carlos Sabino é vice-presidente do SINDPOLF/SP e Diretor da Relações de Trabalho da Fenapef.
Fonte: Reista do SINDPOLF-SP
Últimas Notícias
O SINPEF/MS defende os direitos dos policiais federais