Não existem heróis ou vilões »
A essência do sindicato é a democracia. É o lugar criado para existir divergência de opiniões. E seus representantes, como o próprio nome diz, são porta-vozes de uma coletividade, onde não existe lugar para a pessoalidade, cancro que corrói qualquer instituição, seja pública ou privada. E o melhor remédio para a pessoalidade é a participação, onde participar significar poder opinar, agir, decidir.
O representante sindical não precisa ter medo de errar, ou de ser criticado pelo radical, ou simplesmente por quem não concorda com a opinião da maioria. Justamente porque a voz do representante vem do voto da base, e a representatividade garante sua idoneidade. Na democracia o voto vencido deve acatar a vontade eleita. E ainda que a opinião seja infundada, absurda, todos possuem o direito de opinar sem ofensas, porque opinião é um direito pessoal, muito diferente da vontade da coletividade.
Conforme ótima explanação do colega Delgado, todos sabem que nosso presidente da república venceu como sindicalista dos metalúrgicos. Não acompanhou os últimos dias de vida de sua querida mãe, preso por ser perseguido diante de sua atuação sindical. E conforme cenas do filme que conta sua estória, em destaque, inovou ao convencer seus pares que deveriam negociar parados. E o resultado de nosso movimento por uma carreira valorizada é proporcional à pressão, à mobilização, ao movimento paredista e divulgação à opinião pública.
Portanto, o Sr, Duvanier dificultou tudo, como esperado. E agora, o que fazer? Esperar um processo longo às vésperas das eleições? Engolir que não existem recursos quando a Receita Federal anuncia recorde de arrecadação? Fingir que todas as outras carreiras do Executivo com exigência de nível superior não ganham o dobro que nós? Como pressionar o governo federal, sabendo que ele sucateou nossos salários? Temos potencial para mudar este quadro? SIM!
Qual o diferencial das atuais circunstâncias? O período eleitoral. Somos a instituição com maior credibilidade junto à população, porque prendemos os poderosos. Sempre somos citados nos discursos dos presidenciáveis, pois a polícia federal cumpre seu papel de combate à corrupção. O que precisamos fazer é mostrar ao Governo Lula que sua guarda pretoriana está revoltada, e vamos fazer barulho, vamos incomodar. Estamos furiosos.
Apenas Minas Gerais e Distrito Federal paralisam esta semana. Mas isto foi decidido no voto. E os outros estados permanecem em estado de greve, também pelo voto. Todos estão certos, legítimos, e devem ser apoiados pela democracia latente de suas decisões. A autonomia dos sindicatos torna o contexto mais forte, pois o governo federal, em diferentes regiões do país, nota que o barril de pólvora começou a se detonar aleatoriamente.
Portanto, eu saúdo a todos, radicais ou não, não importa, o ideal é comum e está acima de qualquer individualidade. Convido os policiais federais a se preparem para a greve nacional por tempo indeterminado. Participem. Estamos exigindo do governo federal o mesmo tratamento dado às demais carreiras. Quando ingressei na PF, ganhava mais que um auditor federal. Hoje ganho menos que a metade. Vou me aposentar daqui a 30 anos ganhando menos que o salário inicial do oficial da ABIN. E digo isto aplaudindo de pé os valorosos auditores e estratégicos colegas da Inteligência Brasileira. Simplesmente não agüento mais assistir à evasão de profissionais do órgão, universitários capacitados que migram para carreiras mais valorizadas.
O colega Delgado está certo. No final da luta não existem vencedores ou vencidos. Heróis ou vilões. Não existe lugar para a pessoalidade quando o que está em jogo e a forma que o governo federal valoriza e reconhece o cargo público de agente, escrivão e papiloscopista. Todos, sem exceção, queremos o melhor para nossas famílias. E o que torna legítima nossa luta é saber que ela é fundada na democracia, no voto, e na necessária transparência das decisões. Finalizo saudando todos os colegas, pois nossa força será testada em breve pelo governo, que nos ensinou a importância do embate sindical através do movimento paredista, com a ímpar estória do nosso presidente Lula. Força. Honra. União. Grande abraço. Estou muito satisfeito de dividir esta trincheira com vocês. E independente do resultado, o povo brasileiro vai nos ouvir.
Renato Deslandes de Figueiredo é diretor adjunto da Fenapef e Presidente do SINPEF/MG
Fonte: Agência Fenapef
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