O SILÊNCIO DOS INOCENTES...
Estava disposto a não escrever mais, pelo menos por uns tempos. Não queria correr o risco de ser mal entendido por esses personagens que compõem a tal "parceria silenciosa". Aliaram-se ao governo para inviabilizar a nossa luta e agora "descobriram" que ganham pouco... Mas não agüentei, não suporto mais esse silêncio imposto a todos. Esse "ar de vitória" de gente que perdeu junto conosco. De gente que achou que segurando a barra, como eles admitem, seriam recompensados. Que repete algo que nos enoja, quando dizem que a parceria continua de pé, mas a fatura precisa ser paga.
Todos perceberam que a "parceria" só foi boa para um dos parceiros, pois eles continuam com a fatura na mão, sem SPC, pedindo o resgate, mas sem ninguém querer quitá-la. Só não digo que estou rindo para não ferir egos sensíveis. Cedo ou tarde vão conceder o aumento. Infelizmente, caronas e chupa-cabras fazem parte do contexto, vão levar também...
Esse silêncio me atordoa. Esse silêncio não me deixa em paz e nem me deixa dormir. Os culpados por isso, todos sabem quem são. Esta situação me lembra um clássico do cinema, "Casablanca", quando mandaram a polícia procurar os culpados por um crime. O comandante chamou seus investigadores e disse a frase eterna: "prendam os culpados de sempre".
Os culpados de sempre não preciso apontar, todos sabem quem são. Enchi o saco com esse tipo de gente, com esse tipo de confronto. Não posso mais perder meu tempo com perseguições, brigas e processos, pois é só o que eles sabem fazer, ou pelo menos era: agora estão envolvidos numa guerra de beleza e poder com membros do Ministério Público. Algo surrealista está acontecendo: os promotores querem ser policiais e os delegados querem ser "operadores do direito". Enquanto isso, o povo paga a conta, amedrontado e encurralado pelos marginais que infestam as nossas cidades.
Enquanto não resolvem esta pendenga, estamos vendo aumentos de todos os tipos: de gasolina, telefone, escolas, tudo que é artigo de supermercado e, principalmente, aumento de salário para várias categorias, incluindo os militares. Esse silêncio é "ensurdecedor". Pode ser definido e esclarecido com várias teses, menos uma: os silenciosos não são inocentes.
Eles inviabilizaram o nosso movimento. Prejudicaram a nossa luta e fortificaram nossos adversários. Agora, se deram conta de que precisam desesperadamente atingir o objetivo que eles imaginavam que a greve buscava - não entenderam nunca que aumento salarial era apenas conseqüência. Depois dessa amarga lição, talvez aprendam que certo tipo de aliança só tem um perdedor - os assalariados. Mas não podemos dividir nada com eles.
Como o filósofo, peço contas a todos pela maneira como cumpriram a tarefa que lhes impuseram. E sinto que não posso repartir com eles as nossas mágoas, pois ao mesmo tempo em que falam em união e relações de amizade, conservam em seus "códigos de ética" recomendações para que seus associados evitem "promiscuir-se com subordinados, dentro ou fora de suas funções", desconhecendo que muitos dos "subordinados" não fazem a menor questão de saber que eles existem. Que em suas vidas existem pessoas muito mais enriquecedoras como seres humanos...
Explico melhor. Não fazemos questão de saber da existência deles porque temos certeza de que um dia esse estado de coisas vai mudar. Qualquer pessoa sabe que este modelo está falido. É só olhar as grandes revistas nacionais e veremos reportagens que envergonham a todos, com policiais que comandam delegacias, presos e mostrados em rede nacional. Agora talvez consigamos entender porque a recomendação para que os mesmos evitem promiscuir-se...
Comento estas coisas com tristeza e dor no coração, pois amo esta Polícia. O pouco que tenho na vida consegui com meus trinta anos de trabalho, sem nenhum tipo de punição e uma folha repleta de elogios. Por isso mantenho o sonho de uma polícia una. Com cargo único e sem o inútil inquérito policial, como qualquer polícia importante dos países desenvolvidos.
Meus irmãos, temos que continuar a nossa luta. Não podemos nos acomodar. Todos podem ver que o casamento dos que inviabilizaram o nosso movimento com o governo repete aquela velha história: é união de vaca com cavalo; não dá leite nem puxa carroça. Temos que continuar com a certeza de que o primeiro passo para a concretização de um sonho é a certeza que ele pode ser realizado. Cargo único já. Nível superior já. A nossa certeza precisa continuar intacta, pois todos sabem que não existem ventos favoráveis para quem não sabe para onde ir.
*Valacir Marques Gonçalves é Diretor do Sinpef/RS - e-mail: vala1@uol.com.br
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