Precisamos construir uma nação.
02/04/2015
Quando acontecem crises em nosso país, como essa que estamos atravessando, um pensamento me vem à mente: precisamos começar tudo de novo. Como não é possível os portugueses “descobrirem” novamente o Brasil, me convenci (definitivamente) de que precisamos repensar o nosso país. Não dá mais para aguentar. Precisamos achar uma maneira de realizar essa tarefa, pois respeitando os inevitáveis ufanistas, só não percebe quem não quer: o Brasil não deu certo. Conseguimos, nesse meio milênio, construir, com boa vontade, apenas um projeto de nação.
Não adianta culparmos Dom Pedro, Getúlio, Juscelino, Jango, Jânio, os militares, Collor, Sarney, Fernando Henrique e tantos outros. Falta o Lula, sei. Não poderia dar certo, repetem os “profetas do acontecido”. Com algum merecimento, ele e seu partido são “a bola da vez”. As CPIs, agora, verdadeiros shows televisivos, estão de volta, com novos “artistas”. Meu Deus! Deu tudo errado outra vez!
Precisamos achar uma razão para explicar o motivo de todos esses insucessos. O presidente operário, o presidente do “fome zero”. O presidente aplaudido pelos poderosos na ONU como ícone latino-americano, o metalúrgico sobre o qual todos diziam: “é gente como a gente!”. Tínhamos certeza de que alguém com esse perfil finalmente iria transformar esse território e seus habitantes numa nação de verdade. Novamente estamos frustrados e decepcionados. Todos dão opinião, com a sentença de sempre: os culpados precisam ser castigados…
Castigar os culpados sempre deu resultados pífios. Às vezes, eles até voltam ao cenário político, trazidos pelo próprio povo que exigia o castigo… Todos os presidentes citados, brasileiros como nós – tenho certeza -, gostariam de ter construído outro tipo de sociedade: uma sociedade próspera, forte, respeitada, com seus habitantes felizes e desfrutando uma vida digna. Uns erraram mais do que acertaram e vice-versa, mas algo precisa ficar claro: essa missão não pode ser feita por uma pessoa, não pode ser feita por um partido e sua ideologia. Esse tipo de procedimento não deu certo em tempo algum da humanidade. Essa missão é de todos os brasileiros que sonham viver num país que desperte orgulho em seus habitantes.
O que temos visto é uma corrupção generalizada, combinada com comportamentos reprováveis, aliados ao famoso “jeitinho brasileiro”, com toda a população participando, todos dando seu quinhão. O que todos podem ver é uma falta de solidariedade, falta de respeito ao próximo e amor à pátria que todos juram amar. Para transformar esse país, é preciso muito mais do que exceções à regra. Vão dizer logo: “não faço nada errado”, “não sou corrupto”, coisa e tal. Os comportamentos a que me refiro são fáceis de serem notados: cada vez que uma fila é furada, que o imposto de renda é fraudado, que é pedida uma vaga para um parente medíocre, que um sinal de trânsito é desrespeitado, que é usada cola em provas escolares, que uma dívida não é honrada, que um agente público é subornado, que alguém consegue aposentadoria ou licença médica através de fraude, e até mesmo quando alguns acham maravilhoso um árbitro favorecer seu time predileto.
Infelizmente, talvez seja preciso muitas gerações para que esses comportamentos sejam mudados, pois é triste vermos grande parte da população elogiar gente que aparece na televisão dizendo que recebeu milhões indevidamente. Que participou de armações, repartindo o dinheiro do sofrido povo brasileiro, através de mensalões indecorosos, enquanto outros morrem em hospitais sucateados, verdadeiros depósitos de infelizes. Que se banqueteia com dinheiro público enquanto brasileiros são presos em penitenciárias desumanas, que não recuperam ninguém, servindo apenas como escolas para transformar seres humanos em feras impiedosas que, dali, saem piores do que chegaram.
É indecoroso lermos, em grandes veículos de comunicação, um astro da televisão, sem pesar a influência que exerce em milhões de brasileiros, dizer sem nenhum pejo que políticos envolvidos em fatos lamentáveis são seus ídolos… No nosso país, esse comportamento é usual – achar normal o anormal. Um poema de Robert Browning define bem essa situação: “Nosso interesse está na margem perigosa das coisas, no ladrão honesto, no assassino terno, no ateu supersticioso”. Isso não pode continuar, precisamos construir uma nação. Quanto aos réus confessos ouvidos pelas CPIs, está bem claro: eles não podem ser ídolos de ninguém, eles não são honestos, muito menos ternos… Como ouvi um dia: “não podemos deixar que o desespero nos torne coniventes com toda essa porcaria, todos procurando uma desculpa para não ter que reagir, para não ter que lutar!”.
Quanto tempo vamos esperar para tornar realidade a construção da nação que todos sonhamos? Chega de sonhar, chega de salvadores, essa tarefa pertence a todos nós, o povo brasileiro. Os políticos que nos representam são a nossa projeção, não poderiam ser diferentes. Precisamos mudar, o primeiro passo é cada um fazer a sua parte.
Amém!
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