POLÍCIA FEDERAL
ORGULHO NACIONAL


HERÓIS DA PF

22/06/2004

HERÓIS DA PF Há seis anos - em dia 12 de junho de 1998 - o agente de Polícia Federal Cleber Souza Moura, 28 anos, foi brutalmente assassinado a tiros, no posto de fiscalização da Receita Federal em Guaíra/PR, conhecido como Porto Sete Quedas, localizado às margens do Rio Paraná, fronteira com o Paraguai.

Tranqüilo e bem-humorado, como todo bom baiano, o APF Moura estava prestes a completar o primeiro ano de sua breve história no Departamento de Polícia Federal. Deixou viúva e um órfão, com menos de dois anos de idade. Seu nome foi gravado em placa de bronze e sua foto incluída na “galeria dos heróis” do DPF, onde estão outros 30 policiais mortos em serviço, desde 1970.

Naquele porto são freqüentes as prisões em flagrante. Descaminho, tráfico de drogas, contrabando de armas, cigarros e pneus, passagem de veículos furtados e um extenso rol de outros crimes fazem o cotidiano na fronteira. Teria sido azar, fatalidade ou risco inerente à profissão? Por absurdo que possa parecer, houve quem dissesse à época que o policial morreu porque era “indolente”.

Por indolência (ociosidade, inércia, preguiça, na definição do “Aurélio”), certamente estaria vivo. Morreu porque ousou trabalhar, apesar da inexistência de condições mínimas de segurança, treinamento e equipamentos, como fazem tantos outros abnegados policiais.

Muitos não sabem que o policial fora escalado para trabalhar sozinho, como o infalível “Rambo” das telas. Dias antes de sua morte, no mesmo local e em circunstâncias muito semelhantes, outro criminoso armado fora dominado e preso pelo único policial de plantão. Naquele dia fatídico a vida não imitou a arte e Moura não teve a mesma sorte, ao abordar um franzino transeunte. De “herói” virou vítima. Da covardia, insensatez, incompetência e amadorismo.

A cena se repete hoje no cenário da tragédia. Outro policial solitário - em condições e riscos idênticos - desdobra-se no controle de trânsito de estrangeiros, revistas pessoais, fiscalização de carros, ônibus e caminhões. Por sorte, nem todo dia aparece um pobre desgraçado disposto a descarregar a pistola 9mm no peito do herói de colete preto, como ocorreu em 1998.

Guaíra é o retrato da precariedade do DPF. E também da indiferença, insensibilidade e do descaso de alguns de seus dirigentes com o bem mais valioso de qualquer instituição: o patrimônio humano. Qualquer cartilha elementar (e o bom senso) ensina que o trabalho policial não deve ser feito por um único policial. Nem uma morte estúpida serviu como lição.

No município de Mundo Novo/MS, na outra margem do Rio Paraná, também fronteiriço com o Paraguai, a menos de 15 km de onde tombou o policial, apesar do contrabando e do descaminho, o posto da PF na aduana da Receita Federal está desativado há mais de 10 anos, por falta de efetivo. Para sorte dos policiais que estão lá, nem em todos os lugares grassam incompetência, insensatez, tibieza e caprichos pessoais.

Já a falta de estrutura e carência de pessoal é uma realidade da PF, no Norte a Sul do País. Reportagem recente da “Folha de S. Paulo” revela que, na divisa com a Colômbia, hoje apenas duas dezenas de agentes federais tentam fiscalizar uma extensão de 1.644 quilômetros. A escassez é generalizada ao longo de toda a fronteira com os demais países.

Em homenagens póstumas já foi dito que, no cumprimento do dever, os heróis escreveram com o próprio sangue as páginas da história da PF. Como contraponto ao brilhante artigo “Nossa vida vale mais”, assinado pelo APF Waldir Saldanha Pereira Filho e publicado no site da Fenapef, o desabafo recente da mãe de outro policial que tombou em serviço, talvez defina melhor a lógica dos burocratas. Na visão dela, os policiais não passam de mera “estatística” para o DPF.

(*) Josias Fernandes Alves é Agente da Polícia Federal, representante do SINPEF/MG em Varginha, formado em Jornalismo e estudante de Direito. E-mail: josias.f@bol.com.br

O SINPEF/MS defende os direitos dos policiais federais