Ponto de vista: sobre a revolução na Polícia Militar
20/02/2015
O que parece ser algo sem grande importância para a maior parte da sociedade pode significar uma verdadeira revolução conceitual e de atuação para uma das mais controvertidas instituições do Brasil, em especial, do Rio de Janeiro.
O plano de criar um ciclo único, sem uma jurássica divisão por classes sociais, levará a Polícia Militar a patamares de eficiência e mudança de posturas, jamais imaginados pelos cidadãos de todos os níveis. A possibilidade de um indivíduo, entrando pela base, como soldado, alcançar postos de comando na corporação fará com que todos os seus setores revejam seus conceitos.
Hoje o que existe é um abismo social, que faz da PM um retrato da sociedade que ela defende. Uma entrada para praças, geralmente pessoas de classes mais desfavorecidas, e outra para oficiais, que, via de regra, é atingida por jovens com condições de se preparar intelectualmente para a seleção. Surge daí um retrato fiel do que é o Brasil. Uma aristocracia eterna para comandar e uma massa de cidadãos sem recursos para seguirem suas ordens.
Natural do ser humano, e não apenas do policial, o cidadão, diante de uma enorme falta de perspectivas, como é atualmente o caso dos praças das polícias, vê-se impelido a buscar formas diversas de sobrevivência. A grande maioria acaba abraçando os chamados “bicos” nas horas de folga, enquanto outro contingente mergulha de forma quase irreversível no fácil caminho da corrupção.
Uma Polícia de ciclo único criará possibilidades para todos esses operadores de segurança, que terão que zelar de uma forma muito mais cuidadosa pelas suas carreiras. Coisa fácil de encontrar nos manuais de administração moderna, o surgimento de perspectivas motiva e traz foco do servidor para a função que desempenha. A ascensão ocorrerá por mérito e exigirá do policial a continuidade de sua preparação intelectual e física. O operador de segurança passará a trabalhar com a certeza que suas possibilidades de crescimento profissional dependerão quase que exclusivamente de seu desempenho e dedicação tanto aos estudos, quanto à própria corporação. Muito diferente de uma “gratificação faroeste”, surgirá a premiação pelo esforço de uma carreira inteira.
Essa estrutura de Polícia Ostensiva é comum na maior parte do mundo ocidental. E as pesquisas mostram que tais forças de segurança têm um desempenho muito melhor que as bravas polícias brasileiras. A simples possibilidade desse plano se tornar realidade já causou um tornado de motivação na tropa. Não só do Rio de Janeiro, como de outras polícias do país.
Mas sabemos que toda mudança contundente é difícil. Surgirão grupos, dentro e fora da corporação que se posicionarão contra. Cabe à sociedade, que tanto critica e cobra das polícias, acompanhar o desenrolar dessa possibilidade e cobrar dos legisladores a aprovação desse que será o passaporte para que a Segurança Pública fluminense comece a entrar no mundo contemporâneo.
Sandro Araújo, Agente da Polícia Federal e coordenador do projeto Geração Careta
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