Queima de droga vira espetáculo
Um comboio com 100 policiais federais, em vários carros e dois helicópteros, está previsto para deixar amanhã a Superintendência da Polícia Federal (PF) em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, rumo à cidade de Volta Redonda, no sul do Estado do Rio. O grupo foi mobilizado para uma missão especial: transportar por 1.450 quilômetros de estrada, passando por três Estados, 75 toneladas de drogas para serem incineradas, sexta-feira, nos fornos da Companhia Siderúrgica Nacional. O que vem sendo programado como uma atração na Semana Antidrogas e que terá a presença do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, custará aos cofres públicos R$ 200 mil.
Esse é o valor mínimo a ser gasto para o pagamento de diárias de policiais, alimentação, combustível e manutenção de carros, caminhões e helicópteros envolvidos na ação - considerada de alto risco devido à longa distância e à quantidade de drogas. No ano passado, a mesma polícia queimou, na siderúrgica Ferro-Ligas, em Corumbá, a 426 quilômetros de Campo Grande, quantidade bem maior - 100 toneladas - por um preço bem mais baixo: cerca de R$ 30 mil.
- Esse é o resultado do marketing. Uma queima na Região Centro-Oeste não chama tanto a atenção das pessoas como uma ação no Rio. Não existe uma justificativa para se gastar tanto dinheiro - reclama Edison Tessele, diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais.
Para se ter uma idéia do que essa quantia representa para a PF, quando se fala em combate ao crime, os R$ 200 mil poderiam ser investidos na compra de cerca de 120 pistolas nove milímetros, modelo 917 C, da Taurus. O mesmo tipo que a instituição cede a seus agentes.
Até há bem pouco tempo, o Ministério da Justiça negou aos policiais o aumento salarial esperado após a greve da categoria de quase três meses.
A Superintendência do Rio tem dívidas com contas de luz e telefone. Problemas na rede elétrica do prédio, na Praça Mauá, provocaram a queima de nove dos 21 computadores da Delegacia de Repressão a Entorpecentes. Racionamento de gasolina e munição de pistolas e fuzis é coisa comum na PF.
Basta colocar na ponta do lápis para descobrir que os gastos ultrapassarão os R$ 100 mil esperados pelo superintendente de Mato Grosso do Sul, delegado Wantuir Jacini. A PF paga R$ 123 de diária a policiais envolvidos em viagens. Como 100 homens foram destacados para a missão, serão gastos R$ 12.300 por dia. A chegada em Volta Redonda está prevista para quarta-feira, mas a queima só será feita na sexta-feira. Considerando que só tenham agentes na ação e eles só devem retornar ao Mato Grosso do Sul ou a Brasília após a queima total da droga, a operação deve chegar a 10 dias, a um custo de R$ 123 mil. E isso não é tudo.
Proprietários de empresas aéreas ouvidos pelo Jornal do Brasil observaram que os custos com os helicópteros também são elevados. Por hora, uma aeronave de porte médio gasta 200 litros de querosene. Cada litro do combustível custa R$ 1,70 e, em 60 minutos, os gastos chegam a R$ 340. Contando ainda a manutenção, a hora de vôo atinge R$ 640. Os helicópteros levarão dois dias para chegar ao Rio, já que seguirão o comboio, na velocidade dos caminhões que transportarão a droga. Os custos atingirão, por cada aeronave, cerca de R$ 30.700, totalizando R$ 61.400.
- Essas apreensões são a demonstração de que as fronteiras não estão abertas como dizem - afirmou o delegado Jacini.
Marco Antônio Martins
Grupo de elite vai vigiar a carga
Para proteger pouco mais de uma tonelada de cocaína e 73 toneladas de maconha, a direção-geral da Polícia Federal deslocou para o Mato Grosso do Sul homens do Comando de Operações Táticas (COT), grupo de elite da instituição sediado em Brasília. A equipe é utilizada em ações de risco ou em prisões de políticos ou juízes envolvidos com o crime. No ano passado, eles foram designados para escoltar o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, quando ele foi levado para o presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo. Por uma semana, esse grupo de policiais especializados não combaterá o crime mas guardará entorpecentes.
Aliás, por um dia e meio: enquanto esperam a chegada do ministro Márcio Thomaz Bastos, do diretor-geral Paulo Lacerda e da governadora Rosinha Matheus para a solenidade, esses policiais permanecerão em Volta Redonda. A intenção é vigiar cada grama de cocaína, maconha, ecstasy e haxixe que estarão nos caminhões, guiados por motoristas terceirizados. A expectativa é de que todo o carregamento seja mantido no interior da CSN até a queima.
- Faltam-nos armas e somos a delegacia com menos apoio da administração atual. Mesmo assim, a superintendência do nosso Estado é a que mais apreende drogas. Esse passeio do COT é incompreensível - desabafa Laseir Martins, diretor do Sindicato dos Policiais Federais de Mato Grosso do Sul.
Nova unidade já tem problemas
A queima das 75 toneladas de entorpecentes em Volta Redonda não será uma cerimônia apenas para celebrar o combate do tráfico de drogas do país. A data também marcará a inauguração da delegacia da Polícia Federal na cidade. Para o superintendente da instituição no Rio, delegado José Milton Rodrigues, uma unidade no local possibilitará a repressão ao crime na região, apontada como rota utilizada por traficantes de armas e drogas em direção ao Rio.
- Montaremos a base na região e iniciaremos um trabalho de investigação. As informações que podemos colher são muitas e no local só há a Polícia Rodoviária Federal - comentou Rodrigues.
Mas a nova delegacia já nascerá com problemas. Ela terá apenas 20 policiais. Alguns deslocados do Rio e outros voluntários de diferentes Estados do país. Veículos e outros equipamentos serão remanejados. O próprio superintendente admite a dificuldade.
- Colocamos os homens e os equipamentos e, depois, começam a surgir os recursos - analisa.
Enquanto a delegacia de Volta Redonda gera preocupações, a superintendência de Mato Grosso do Sul comemora o fato de ser recordista, há quatro anos, na apreensão de drogas no país. As 75 toneladas representam 60% do total apreendido no país, entre junho do ano passado e maio deste ano.
Fonte: Copyright © 1995, 2000, Jornal do Brasil
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