‘Espionagens parecem uma sina do Planalto’
BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, comparou ontem a denúncia de espionagem envolvendo assessores do Palácio do Planalto ao escândalo da concorrência do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), ocorrido no início do governo de Fernando Henrique, em 1995. Thomaz Bastos disse que a Polícia Federal pode até vir a investigar a denúncia se houver algum “aspecto penal” nas conclusões do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
— As espionagens parecem uma sina do Palácio do Planalto. Eu me lembro que, no começo do governo Fernando Henrique, ocorreu o caso Sivam, que redundou em demissões e modificações no governo.
O então chefe do Cerimonial do Palácio do Planalto, embaixador Júlio César Gomes dos Santos, foi afastado depois que uma escuta telefônica em sua residência levantou indícios de que estaria favorecendo a empresa americana Raytheon na licitação do Sivam. Suspeito de encomendar a escuta, o então presidente do Incra, Francisco Graziano, foi demitido. A escuta revelou relações do embaixador com o dono da Líder Taxi Aéreo, José Afonso Assumpção, representante no Brasil da Raytheon, empresa vencedora da licitação. O grampo também atingiu o então ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, que pediu demissão.
“Mesmo os paranóicos são perseguidos”, diz Bastos
Thomaz Bastos disse que conversou ontem com o chefe do GSI, general Jorge Félix, e foi informado de que já existe uma investigação em curso, mas não descartou a abertura de inquérito e a presença da PF na investigação. Perguntado se não há no governo uma paranóia em relação a vazamento de informações, respondeu:
— Mesmo os paranóicos são perseguidos. De modo que você pode ser paranóico e às vezes acontecer coisas. Então é preciso ter cuidado. É um dever de Estado proteger a intimidade do Palácio do Planalto e do presidente da República.
Em despacho interno com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro José Dirceu reagiu com indignação à notícia de que a Casa Civil teria dado o aval para a investigação de assessores palacianos. Para amigos, Dirceu repetiu seu inconformismo com o caso:
— Isso não tem sentido. É um absurdo completo. Até porque sou amigo de um assessor que está sendo envolvido no episódio. Mas neste governo sou culpado de tudo.
Embora na Casa Civil a expectativa seja de que a responsabilidade recaia sobre a Abin, em outros setores do Palácio do Planalto a aposta é de que haja baixas na área política. Neste caso, o secretário-executivo da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, seria alvo de possível punição.
O general Jorge Félix disse que a sindicância se restringirá ao GSI e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Assim, está excluída da investigação a participação de assessores da Coordenação Política e da Secretaria-geral da Presidência, bem como a origem da informação, publicada na revista “Veja”.
Integrantes da Casa Civil acusam sindicalistas da Abin
Integrantes da Casa Civil apontam a seção sindical da Abin como principal pivô do vazamento das notícias. Mas ontem os dirigentes sindicais da Abin negaram participação no episódio. Ao GLOBO, admitiram que atuaram para derrubar a antiga diretora da Abin, Marisa Del’Isola. Mas argumentam que manifestaram apoio ao futuro dirigente do órgão, o delegado da Polícia Civil de São Paulo Mauro Marcelo Lima e Silva, indicado pelo próprio Lula.
COLABOROU Ilimar Franco
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