POLÍCIA FEDERAL
ORGULHO NACIONAL


O RIO NÃO PRECISA DO EXÉRCITO, PRECISA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA

15/04/2004

O RIO NÃO PRECISA DO EXÉRCITO, PRECISA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA O Rio de Janeiro não precisa do Exército para combater o tráfico de drogas: precisa de inteligência da polícia. Quem afirma é o pesquisador José Vicente da Silva Filho, especialista em segurança pública do Instituto Fernand Braudel e coronel da reserva da PM. Ele prevê que a tendência é de "tudo continuar como antes" no tráfico do Rio.

Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, no UOL News, Silva Filho afirmou que a verba que o governo federal ofereceu aos Estados "é resto do ano passado" e insuficiente para resolver os problemas nas áreas mais críticas. Ele disse também que o tráfico nas favelas do Rio hoje está sob o comando de dezenas e dezenas de grupos. "O comando do tráfico é descentralizado, autônomo, independente e, pior, hoje está na mão de uma garotada que está se matando em disputas por pontos de venda."

Para o coronel, os traficantes "ganham pontos" com a desorganização da segurança pública no Rio. Veja a entrevista completa no vídeo à direita e leia mais sobre a entrevista abaixo.

"Remendos"

O governo federal deve liberar R$ 75 milhões em abril e R$ 75 milhões em maio para todos os Estados da Federação num pacote para a segurança pública. Desse valor, R$ 20 milhões devem ir para o Estado do Rio de Janeiro. Na opinião do coronel Silva Filho, ex-secretário nacional da Segurança (no final do governo Fernando Henrique Cardoso), essa verba deveria ser usada de acordo com as prioridades dos Estados.

"O governo federal vai remendar agora para dar aquilo que deveria ter sido dado no ano passado. Os valores são insuficientes. Na correspondência com a sua população, o RJ deveria receber aproximadamente R$ 70 milhões, assim como São Paulo precisaria de mais de R$ 100 milhões anualmente. O que está acontecendo é que o governo liberou menos da metade do que era previsto para a segurança pública no ano passado, mostrando claramente que segurança pública não está nas prioridades do governo federal, ela entrou no contingenciamento das verbas."

"Agora estão pagando o resto e não vão conseguir cumprir o Orçamento deste ano novamente. Vão dar uma parte querendo mostrar uma generosidade descabida, porque isso é menos do que o Rio ainda precisa para resolver os seus problemas de segurança."

"Temos quatro áreas muito problemáticas no país que precisam ter tratamento diferenciado: SP, RJ, ES e PE. Pegar o dinheiro e dar um pouco para cada Estado para fazer média, não sobra para as partes críticas do país."

"Rio não precisa de Exército nem de muro cercando favelas. Precisa de inteligência

O coronel vê a favela da Rocinha, que nesta semana foi ocupada por 1.300 policiais, como um problema tipicamente carioca. "É o maior entreposto de cocaína do país, junto com o Morro da Mangueira. Esses são os dois grandes supermercados de cocaína. As autoridades do Rio acusam o governo federal de não cuidar das fronteiras por onde passam drogas e armamentos à vontade, mas não cuidam da fronteira da Rocinha."

"O disque-cocaína funciona a todo vapor através de motoqueiros. Isso todo mundo sabe no Rio de Janeiro. Se cercar as entradas da Rocinha, como de outras favelas importantes, o problema acaba. Como vai entrar armas, drogas e munição? Não precisa de muro. O precisa é de inteligência, Saber quem está fazendo o quê."

"Temos 2.000 traficantes médios e pequenos rodando pelas favelas do Rio de Janeiro, segundo estimativa do serviço de inteligência do RJ. Precisa saber acompanhar os principais deles, e isso se faz com inteligência.
O que faz a inteligência? Alguém tem de buscar a informação, onde vão agir, onde estão estocando armas, por onde entram as drogas, como é a distribuição A polícia não bate nas bocas de fumo porque sempre tem gente importante. Dou um endereço: a esquina da rua Farme de Amoedo e Barão da Torre, em Ipanema. Todo dia tem carro vendendo cocaína lá e isso se tolera. Tolerância por tolerância, de repente estouram esses conflitos. No ano passado, o Exército foi para o Rio de Janeiro no Carnaval. A febre amainou, mas a doença continuou, e vai continuar porque não se vê medidas para resolver o problema. O Exército é apenas remédio sintomático para baixar a febre."

"Não existe inteligência nesse país"

"A Polícia do Rio de Janeiro não está preparada. Não existe inteligência nesse país. Temos uma Agência Brasileira de Inteligência que tem uma enorme chácara lá em Brasília. Fui até conselheiro do sistema de inteligência quando estive em Brasília. Mas eles não conseguem produzir essa inteligência operacional. Eles, quando muito, estão acompanhando o MST, informando a Presidência e tudo mais. Mas essa micro-inteligência é uma questão local."

"Para se ter uma idéia do problema da crise, visitei o Rio no começo desse ano e constatei que a Diretoria de Inteligência da Polícia do RJ não faz a menor idéia do que existe nos arquivos na Delegacia de Repressão a Entorpecentes e nem faz idéia do que tem na Delegacia de Roubos a Veículos. Não conhece e não tem acesso. Você tem um conjunto de informações que é de cada delegacia e tem que negociar muito para tirar alguma coisa dali. As polícias são até rivais. Você tem duas forças brigando, o Batalhão de Operações Especiais da PM e o Batalhão de Choque da Polícia Civil. Com esse tipo de desorganização, ponto para os bandidos."

"Comando do tráfico está descentralizado"

Para Silva Filho, a Secretaria da Segurança Pública do RJ "tem se esforçado". Mas a gente percebe, depois de uma certa experiência, que quando se emprega muita tática, muita soluçãozinha, é porque não existe estratégia. Foi criado um batalhão especializado em vias expressas, para os problemas que aconteciam nas linhas Vermelha e Amarela. Deu outro problema, criaram um grupamento tático motorizado. Foi criado depois o batalhão de operações especiais. É um monte de falsas soluções para problemas imediatos."

"No final do governo FHC, estive lá no Rio, num período em que estávamos cuidando de equipar as polícias. Não havia tempo para mais nada. Isso é um problema de estratégia de médio e longo prazo."

"A questão é também de responsabilidade da Polícia Federal, que, no momento, é a grande crise do governo federal. Ela está paralisada, e tem pouco mais de 500 homens no Rio de Janeiro. A PF tem 1.500 homens fora dos quadros, à disposição de autoridades, fora de serviço. Não produziu ações de inteligência ou uma repressão coordenada para ajudar nesse processo de combate ao tráfico no Rio de Janeiro."

"As pessoas imaginam em geral que quem comanda todo o tráfico no Rio de Janeiro é o barão que fica no apartamento lá no Leblon, e tem gente q acha que tem algum milionário disfarçado de dono de empresa de ônibus que também participa. Isso é verdade, mas o tráfico tem um aspecto singular no Rio de Janeiro."

"Existe uma microorganização. Há dezenas de grupos atuando no tráfico do Rio. Há o chefe de morro, que é aquele cara de calção e chinelo. De vez em quando, ele faz aquela mansãozinha na favela. Você imagina que organizações criminosas como o Comando Vermelho comandam todo o tráfico, mas não é verdade. O tráfico está descentralizado, autônomo, independente, e pior, hoje está na mão de uma garotada que não sabe as artimanhas das alianças estratégicas. Ficam se matando uns aos outros por disputa de pontos de drogas."

"Depois de certo estágio, é muito difícil de acompanhar isso. É como a parede de uma represa: você não consegue tapar oito buracos ao mesmo tempo. Deixou acontecer e agora é difícil de segurar. Mas é certo que vai passar e vai voltar, vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes . O pior de tudo, nesse tiroteio, é que enquanto está todo mundo pensando nas próximas duas eleições o povo é que está sofrendo."

O SINPEF/MS defende os direitos dos policiais federais