Índos dizem que não vão desocupar propriedades invadidas no MS
10/01/2004
Os líderes dos cerca de 3.000 índios das etnias guaranis e caiuás, que desde o dia 20 invadiram pelo menos sete fazendas em Japorã (464 km de Campo Grande), disseram hoje ao juiz federal Odilon de Oliveira, 54, que não vão desocupar as propriedades. Oliveira fez audiência ontem em uma das áreas invadidas e teve de dançar com os índios durante alguns minutos.
"Isso protege a saúde e o trabalho", justificou o líder indígena Ambrósio Fernandes. Oliveira disse que lida há 18 anos com os conflitos indígenas e nunca precisou dançar. Ele afirmou não ter ficado constrangido.
As lideranças afirmaram também que o pecuarista Pedro Fernandes Neto tem prazo de dez dias para retirar 2.600 cabeças de gado da fazenda São Jorge, além do maquinário agrícola. Eles dizem que são acusados injustamente de matar o gado.
Para deixar agricultores cuidarem de 400 hectares de soja plantada na fazenda Paloma, também invadida, pediram 15% da produção do grão como pagamento.
Oliveira fez a "audiência de tentativa de conciliação" na fazenda São Jorge, invadida no dia 22. Ele calculou que cerca de 300 índios participaram da reunião. Disse que o número de participantes era pequeno. Os líderes afirmaram que os demais índios estão nas outras fazendas invadidas.
Sem escolta da PF (Polícia Federal), dispensada por ele, o juiz deixou o carro na porteira da propriedade e andou mais de 1 km até a sede.
O juiz julga três ações de reintegração de posse que envolvem cinco fazendas invadidas. Fernandes afirmou que sete propriedades estão tomadas pelos índios em Japorã.
Após a reunião, que começou às 13h30 e terminou às 15h (horário de Brasília), Oliveira redigiu ainda na fazenda o termo da audiência. Deu prazo de cinco dias, a partir da notificação, que deve ocorrer na segunda-feira, para o dono da fazenda São Jorge dizer se aceita retirar o gado da área.
O pedido dos índios de ficar com 15% da produção de soja não foi considerado pelo juiz.
Os advogados dos pecuaristas não foram à audiência. A reportagem os encontrou na estrada de acesso a área.
José Ipojucan Ferreira, 36, e Osmar Silva, 44, disseram que não há possibilidade de ser aceita a proposta dos índios de retirar o gado da área. Eles disseram acreditar que a liminar de reintegração de posse sairá na próxima semana. "Se o juiz negar, vamos recorrer ao TRF (Tribunal Regional Federal)", afirmou.
Segundo Guiomar Mário Pizzatto, 60, que advoga para o agricultor Jeadir Silvestre Carli, dono da fazenda Paloma, "lagarta já está atacando as folhas e os índios não deixam pulverizar a lavoura". A Justiça determinou que a pulverização fosse feita com avião, mas "ninguém quer fazer o serviço com medo dos índios armados", disse Pizzato.
Durante a audiência, um grupo de 20 produtores rurais estacionou camionetes e carros a 5 km da fazenda invadida. Pelo menos 12 policiais federais acompanharam a movimentação também do lado de fora da propriedade.
HUDSON CORRÊA
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