FELIZ 2003?

Quando o ano de 2001 estava acabando, paramos para pensar e concluímos: 2002 será o ano da virada. 2002 será o início de uma nova era para o Brasil e para os brasileiros. Havíamos chegado a essa conclusão em virtude das eleições presidenciais, já que sempre acreditamos na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

Acreditávamos, mesmo com os delegados governistas da PF falando que o Lula iria perder de novo. Diziam que ele sempre saia na frente e chegava atrás.

Um grupo de delegados retrógrados, com suas mentes poluídas pelas mazelas do tempo da ditadura militar, entendia que Lula era apenas um sonho distante de "vermelhos" e "comunistas". Gozavam, faziam chacota de tudo e de todos que apostavam em Lula, dizendo sempre:

"Vocês não aprendem mesmo, contra a direita, que está no governo desde 1500, não tem Lula nem Lelé".

Nunca acreditamos nas ironias e brincadeiras de mau gosto desses delegados marcados pelas politicalhas e conluios com os governos constituídos, que sempre apostaram suas vidas na vitória dos mesmos de sempre. Sempre pensamos que a pessoa que não tem sonhos não tem futuro e, acreditando nisso, trabalhamos com afinco para a vitória do "impossível".

Na Polícia Federal cansamos de ver um diretor geral filiado ao partido do presidente, fazendo de tudo para beneficiar o candidato do governo. Pudemos identificar um grupo de delegados ranzinzas e atrasados, acreditando em um mentiroso que fazia denúncias absurdas contra a vida pessoal de Lula.

Esse grupo, entusiasmado em agradar o governo e seu candidato, começou a "investigar" a vida de Lula. Fizeram o "Dossiê Lula", passando a investigar com dedicação exclusiva onde Lula morava, quem comprou o apartamento para ele, por quanto e por que. Onde estudava sua filha e quem pagava as despesas. Enfim, estavam atrás de algo que pudessem desmoralizar o candidato Lula e assim se perpetuarem no poder através do governo que sempre os ouvia e lhes dava os cargos na PF. Investigaram durante dois anos, usaram os recursos da União para uma investigação ilegal e oportunista.

Foram denunciados e o plano falhou. A mídia cobrou as tais investigações e ninguém assumiu nada, uma "sindicância rigorosa" foi instaurada, mas, como sempre, não se chegou a nenhum responsável.

Quando delegados politiqueiros estão envolvidos em algo, nunca dá nada para ninguém. Para o chefe do governo e para o candidato Serra, tudo bem, os delegados leais haviam tentado.

Agimos certo, dane-se, diziam eles. Um torneiro mecânico não pode dirigir o país! Onde já se viu isso? Como pode um homem sem diploma querer ser presidente; nem formado em direito ele é, comentavam. Tinham certeza de que a vitória de Lula era um sonho distante e impossível.

A FENAPEF, ao contrário desses delegados corporativos, apostava em Lula. Os sindicatos filiados à Federação Nacional dos Policiais Federais, em todo o País, tinham como meta a vitória do sindicalista famoso.

Os delegados de Serra e FHC riam e diziam que éramos malucos. Riam à toa. Em represália ao apoio da FENAPEF a Lula, os delegados de Serra inventaram uma guarda fardada para acabar com o nível superior dos Agentes, Escrivães e Papiloscopistas. Queriam desmoralizar e colocar no nível médio todos que não fossem delegados. FHC, atendendo esses conspiradores governamentais, editou uma medida provisória com a tal guarda na PF, e a FENAPEF e seus SINPEFS precisaram trabalhar com afinco para derrotar mais essa maquiavélica idéia dos delegados governistas.

As eleições acontecem e CATAPLAM! LULA Presidente.

Os delegados governistas que tudo fizeram para a vitória de Serra, chegando até a afastar delegados de inquéritos que pudessem prejudicar de alguma maneira o candidato tucano, ficam atônitos, andam em círculos, o seu castelo de areia desmorona. Como? Não pode ser!

Com a vitória de Lula eles pensam. Estamos ferrados, nosso candidato perdeu. Fizemos de tudo e ele perdeu. E agora? Estão dizendo "agora estamos "fritos" e que, com o PT não teriam mais nada de regalia, não poderiam mais transformar a PF em "clube particular", em instrumento de uso político do governo. Não poderão mais se revezar nas embaixadas no exterior, com salários superiores a US$ 9.000,00.

E agora? "Não vamos mais poder nomear nós mesmos para os cargos mais importantes da PF", diziam. Os delegados que apostaram no candidato errado, usando todos os recursos da PF para ajudar Serra, estão apavorados, não sabem o que fazer. Estão desesperados e desorientados.

Aí acontece o inesperado, o impensável, o inimaginável: Lula, o presidente eleito, indica Márcio Thomaz Bastos, um dos maiores advogados do país e este resolve indicar o delegado aposentado Paulo Lacerda para dirigir a PF, que desde a sua aposentadoria, em 1996, trabalha com o Senador Romeu Tuma.

E aí, em virtude do passado retrógrado de Lacerda, que é idêntico aos que estavam chorando pela vitória de Lula, a alegria dos desesperados volta, como que por encanto. Voltam a ficar arrogantes e passam a ameaçar os sindicalistas da FENAPEF como sempre o fizeram. Começam a chamar os seus cúmplices de companheiros e rifam os cargos novamente por todo o país.

"Estamos feitos, os "vermelhos" vão colocar o Lacerda. OBA! TUDO COMO ANTES. O TUMA É NOSSO! LACERDA É TUMA, TUMA SOMOS NÓS!" QUEM DIRIA?

O mal venceu o bem. O mau venceu o bom.

Depois de tanta luta para elegermos LUIS INÁCIO LULA DA SILVA, que sempre passou a esperança de mudar o Brasil e a PF, dando um novo rumo na segurança pública que está falida, acabando com os privilégios, corrupção e tráfico de influência. Vem a desilusão. Romeu Tuma vai mandar na PF de novo através do Paulo Lacerda que é seu funcionário. Os mesmos politiqueiros de sempre serão nomeados e as mudanças sonhadas irão todas para o nunca.

Lacerda é contra a modificação que o Programa do PT prega para o Inquérito Policial.

Lacerda atuou, por designação da ADPF, junto ao Ministério da Justiça e ao Congresso Nacional para impedir a modificação e a modernização do Código de Processo Penal.

Lacerda é a favor da criação da Carreira "Jurídica" para delegados, desvinculando-os da Carreira Policial Federal, o que sepultará definitivamente o sonho de uma carreira única, com o ingresso pela base e o desenvolvimento profissional através da promoção, como aprovamos nos dois últimos CONAPEFs.

Lacerda foi o idealizador e o maior lobista da PEC-28, de autoria de Romeu Tuma, que criava a dita "carreira jurídica" para os delegados, deixando o resto dos servidores na amargura.

Lacerda é um delegado de gabinete.

Lacerda é aposentado há mais de seis anos e nem sabe mais quem é quem na PF.

Lacerda é "famoso" por um inquérito único, que não gerou pena para ninguém, nem recuperou os milhões de dólares evadidos do Brasil pelo esquema de corrupção coordenado por PC Farias. Tudo acabou em PIZZA.

Lacerda é contra o nível superior que já está na lei para os Agentes, Escrivães e Papiloscopistas e temos a certeza que fará das tripas coração para derrubar isso. Daqui a pouco acaba voltando a guarda fardada, com outra roupagem, talvez sem a farda.

O que aconteceu?

Porque os políticos do primeiro e segundo escalão do PT aceitaram isso?

A FENAPEF já disse ao futuro Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao Deputado Federal José Dirceu, ao Presidente Lula e a todos os políticos do PT que essa nomeação será a entrega da PF para o Tuma e para a oposição.

Já informamos que essa nomeação será o maior problema que o novo governo vai enfrentar, mas parece que nada adianta.

Talvez o grande erro da FENAPEF tenha sido apresentar apenas o PERFIL do diretor que sonhávamos para a Polícia Federal, ao invés de indicar nomes. Sim, pois nos iludimos de que com o PT as coisas seriam como as lideranças desse partido haviam nos afirmado ao longo dos anos: vocês serão ouvidos, ninguém será nomeado à revelia da vontade dos policiais; os novos tempos serão de transparência, diálogo e participação de todo o conjunto de funcionários, não apenas de uma casta.

Doce ilusão: deveríamos ter agido como a ADPF e a federação dos delegados, que foram ao futuro ministro com uma PAUTA DE NOMES, enquanto os iludidos da FENAPEF apresentaram uma pauta de PROPOSTAS, de PROJETOS.

Os retrógrados, os traficantes de influência e todos que apostaram no Serra vão sair ganhando. Até quando? Porque o PT aceitou isso? Temos todo o tempo do mundo para descobrir o por quê. Vamos chegar à verdade que está por trás dessa decisão, custe o que custa, dure o tempo que durar.

A FENAPEF e os seus sindicatos filiados estão com a consciência tranqüila. Temos a clareza de ter feito o que era correto. Faríamos tudo de novo. Estamos convictos, absolutamente, de ter agido corretamente em prol do Brasil, dos Brasileiros e da Instituição Policial Federal e assim vamos continuar.

A aqueles que pensam que nos derrotaram, saberão na hora exata que a perda de uma luta, fruto do veneno da traição, servirá como um combustível da melhor qualidade para vencermos essa guerra.

Vamos mobilizar todos os policiais federais do Brasil contra essa estranha e inacreditável nomeação. Vamos reagir com tudo que for possível e se nada adiantar, temos a certeza que Paulo Lacerda poderá ser nomeado, mas não dirigirá de fato a PF.

Só não queremos ser o início de um descontentamento, que os Serristas que continuarão no poder na PF, agora aliados aos pupilos de Tuma, apostavam que iria acontecer, mas não tão rápido.

Na Receita Federal, assim como na PF, o descontentamento é geral: o novo secretário, indicado pelo PT, não é nada mais, nada menos, que o secretário-adjunto de Everardo Maciel, a pedido deste. Enquanto isso a UNAFISCO ficou a ver navios.

No Banco Central foi nomeado um deputado do PSDB, ex-presidente de um banco internacional que especula contra o Brasil e fez campanha contra Lula e a favor de Serra.

Na ABIN ficará tudo como está e a segurança da PF, com a qual Lula contou desde 1989, quando fazer a sua segurança era um perigo funcional dentro da PF, será dispensada, sem qualquer explicação.

Vamos fazer o maior protesto do novo governo do PT, já que acima da vontade política está o desejo da maioria esmagadora dos policiais federais, e acima de todos, a integridade e o bom nome do Departamento de Polícia Federal que foi construído, não com jogadas políticas e politiqueiras, mas com o suor e até a vida de alguns policiais federais em todo o país.

Primeiro vem a desilusão. Depois vem a frustração, depois, com certeza a inconformidade, e depois..... só Deus sabe.

Para aqueles que nos usaram e agora nos descartam, como se fôssemos apenas um instrumento para chegarem ao Poder, jogando-nos na arena para os leões nos devorarem, deixamos um recado:

NADA COMO UM DIA APÓS OUTRO. NADA É ETERNO!

Que Deus ilumine o nosso novo presidente e lhe dê a visão necessária para que possa enxergar os erros cometidos e para que tenha a humildade de reconhecê-los. Ainda há tempo para consertá-los.

Estão roubando os nossos sonhos, mas vamos continuar sonhando-os, porque sem sonhos não há futuro.

UM FELIZ 2003 PARA TODOS QUE FIZERAM O MELHOR EM 2002.

A LUTA CONTINUA COMPANHEIROS!

*Francisco Carlos Garisto é presidente da FENAPEF

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