POLÍCIA FEDERAL
ORGULHO NACIONAL


ARTIGO: SAUDADE DA DITADURA

09/08/2003

ARTIGO: SAUDADE DA DITADURA Pode parecer absurdo, mas até o final desta carta muitos concordarão comigo. Acabo de chegar de Brasília, onde me juntei a mais de 50 mil servidores públicos de todo o Brasil para exercer meus direitos de cidadã brasileira, consagrados na pouco conhecida Constituição Federal. Liberdade de expressão e de pensamento, direito de manifestação, direito de participar do processo legislativo buscando pressionar e influenciar nossos representantes.

A Grande Marcha de Brasília foi linda. 50 mil servidores "uniformizados" - com bonés e camisetas das diversas entidades, portando bandeiras e faixas - literalmente cobriram toda a pista direita do eixo monumental desde a Catedral até o Congresso. De frente para a rampa do palácio presidencial, tomando toda a Praça dos Três Poderes, os 50 mil servidores ouviram emocionados aos discursos dos poucos políticos sensatos que restaram em apoio à causa. Foram quatro horas de manifestação pacífica, um belíssimo e grandioso ato democrático reunindo representantes de todos os estados da federação, do Acre ao Rio Grande do Sul.

Mas, o Brasil não pôde tomar conhecimento de nada disso. O que os milhões de brasileiros assistiram e leram pela imprensa foi meia dúzia de vândalos quebrando a "casa do povo". Só. As fotos e imagens me intrigaram. No preciso momento em que os vândalos se jogavam sobre os vidros, lá estavam as câmeras registrando tudo. Se tivesse sido ensaiado não teria ficado tão perfeito. E para nós, os verdadeiros manifestantes que marcharam pacificamente, ficou a nítida sensação de que "alguém" programou e realizou o vandalismo para desmoralizar a grandiosa manifestação. E conseguiu. É muito triste.

E onde fica a absurda saudade da ditadura? Suponhamos que as mudanças da Constituição em curso, a mal explicada PEC 40 conhecida pela alcunha de "reforma da previdência", fossem realmente boas. Por melhores que pudessem ser, elas não poderiam se concretizar pelo processo temeroso e os métodos ditatoriais que o governo está usando. Posicionando-se acima do bem e do mal, recusando-se ao debate, perseguindo os opositores, agredindo profundamente a própria democracia ao manipular o processo de votação, decidindo na calada da noite, impedindo que os manifestantes ocupem os espaços públicos dentro do templo da democracia, usando a força, criando incidentes e por fim usando a imprensa para desinformar o povo. Quem não concorda é expulso, satanizado, excluído do processo.

Cadê a saudade absurda? Naquele tempo todos sabiam que não havia democracia, todos sabiam que as informações da imprensa eram manipuladas , o inimigo era conhecido e declarado, havia o medo. E agora, que os "messias" da democracia manipulam a própria democracia para atingir os fins que desejam? Não querem se curvar a nada porque eles próprios se consideram como "o caminho, a verdade e a vida". Naquele saudoso tempo, os jornalistas também lutavam pela verdade. Agora eles manipulam os fatos em favor dos "messias". Estamos anestesiados pela ilusão da democracia, baixamos a guarda, adormecemos nosso espírito crítico.

Brasileiros, vamos acordar nossa capacidade de pensar. Na democracia os fins jamais podem justificar os meios. Por mais "santificado" que sejam esses fins, o processo democrático é o meio que deve sempre legitimar, convalidar, justificar os fins. O estado de direito não pode se curvar a nenhum interesse messiânico. O processo democrático deve prevalecer e ser a própria justificativa de qualquer causa.

Para terminar, desejo que a verdade seja apurada e os vândalos e seus mandantes punidos exemplarmente. Não posso deixar de informar também, porque a imprensa não tem cumprido seu papel, que a nossa democracia anda tão frágil que na segunda-feira, 4, o presidente da Câmara se recusou a cumprir um mandado de segurança em defesa do direito dos manifestantes de ocupar os espaços públicos dentro do Congresso.

NÃO à ditadura messiânica. NÃO a qualquer violência ao estado de direito – vandalismos, invasões de propriedades, manipulação da informação e do processo democrático. A DEMOCRACIA PEDE SOCORRO.



Campo Grande, MS, 7 de agosto de 2003.

Ana Teresa Facirolli

Servidora pública graduada em jornalismo pela UFMS.

O SINPEF/MS defende os direitos dos policiais federais