ÀS VEZES FALTA UMA PALAVRA, UMA MÃO...
Gilberto Clementino dos Santos*
Não adianta. Todo mundo fala, fala, fala...e nada!
As pressões surgem de todos os lados, as cobranças fazem parte do dia a dia dos homens-polícia. É bom que se diga, que se escreva assim: homens-polícia.
Urge que façamos destaque a esse sentido humano, falível, capaz de choro, lágrimas oriundas da alegria ou dor, do sofrimento, da pressão, da luta por respostas positivas, pela manutenção de uma credibilidade conquistada pelo empenho, pela renúncia de tantos.
Os policiais federais são uma das últimas trincheiras em quem a sociedade deposita sua esperança e confiança. Mas é importante que se diga: são homens, seres humanos e não super-homens, não são seres de aço, invencíveis, indestrutíveis, capazes de suplantar na solidão de suas vidas aos dissabores das incompreensões, sem serem atingidos por seqüelas...
Perder um companheiro, significa muito mais que uma derrota amarga. Aqui, não estamos sendo derrotados pelos criminosos, pelas quadrilhas, pelo narcotráfico. Estamos sendo derrotados pela nossa letargia no campo preventivo psicológico, onde assistimos inertes as sucumbências de homens-polícia, que deixados à própria sorte, revelam no cotidiano, a urgência de providências de apoio, de acompanhamento, de solidariedade. Os suicídios que têm ocorrido devem representar um gravíssimo alerta para todos nós. O fato de sermos apanhados por policiais federais, homens-polícia, dando morte a si mesmos, deve representar para todos um chamamento, uma convocação para que se abra uma discussão sobre tudo isso, estabelecendo-se, de imediato, atitudes concretas no sentido da criação de um preventivo apoio psicológico aos homens-polícia e, de igual modo, ações de curto prazo, de assistência social, para acompanhamento de situações, flagrantemente, visíveis.
Atualmente, a situação é tão grave, que mesmo leigos, companheiros de trabalho, constatam, a todo instante, estar a pessoa apresentando sinais de fragilidade psíquica, com inclinação para perder-se, desequilibrar-se, oferecendo-se singelamente para protagonizar a própria ruína, eliminando a si próprio. A família clama por socorro, os amigos fazem o que podem. Surge a corrida ao socorro médico. São profissionais médicos que entendendo o drama e a dor desses seres humanos, sinalizam com afastamentos de atividades por curtos, médios e longos períodos.
Nem sempre o tratamento é tempestivo, quase sempre ou sempre, chegamos atrasados. Esse atraso é fatal. São atitudes preventivas, cautelares, que deixam de ser tomadas, ações que deixam de ser praticadas, patologias que não são diagnosticas.
Incumbe a todos nós dar o alerta. Mesmo tardio, mas ainda em tempo. De nossa parte, acreditamos sinceramente, apesar da dor que aperta nossos corações, que poderíamos ter feito mais, gritado mais, reclamado mais, sugerido mais, cobrado mais. Afinal, a Polícia Federal somos nós, uma família, que tem a obrigação de cuidar de todos, indistintamente.
Tenho certeza, que dentre tantos desafios, hodiernamente, deveremos enfrentar e vencer mais esse. Como sempre, seremos "fortes na linha avançada, sem das lutas o embate temer (...)", dignos, honrando a memória daqueles que se foram, aos quais em algum momento, às vezes, faltou uma palavra, uma mão... mas, que em seu silêncio, em seu sacrifício, nos deixaram uma lição: sentir vergonha pela inércia e agir para alterar esse estado.
*Gilberto Clementino dos Santos é Papiloscopista Policial Federal, lotado na SR/DPF/ES
E-mail: Gilbertoclement@ig.com.br
www.fenapef.org.br
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