QUE SEJA EFÊMERO ENQUANTO DURE!
*por Flávio Lisa
Consoante ensina o dicionário HOUAISS de língua portuguesa, em sua etimologia, gr. ephêmeros,os,on ‘que dura um dia‘, pelo lat. ephemèron,i. Que é passageiro, temporário, transitório, etc. Este é o fenômeno que tem se mostrado constante quando o assunto é a troca de comando na Superintendência Regional do DPF no Estado de Sergipe e quiçá em várias outras regionais por este país, o que tem causado um descontentamento generalizado quer seja junto às bases da corporação, quer seja no seio da sociedade que se sente cada vez mais órfã em tempos de multiplicação e diversificação de atividades criminosas.
Tal contratempo recrudesce sempre em épocas como a atual, em que se avizinha mais uma solenidade de posse para um novo superintendente (Que ele tenha toda a sorte do mundo!).
Há coisas que denotam romantismo na celeridade de sua própria existência, assim como o carnaval, que manifesta em cinco dias nos corações e mentes dos foliões os mais variados sentimentos e amores instantâneos, causando uma forte sensação de saudades já na quarta-feira de cinzas a qual se mantém viva por um ano. Romantismo também presente que no ciclo de vida muito curto de uma bela planta, podendo germinar, florescer e dispersar as sementes várias vezes em um só ano; no jornal do dia que ostenta toda a sua importância no dia, servindo apenas para embrulhar peixe no dia seguinte. Todavia, para várias outras, incluindo-se aí a função de comando em um Órgão tão bem conceituado como o Departamento de Polícia Federal, urge a perenidade, ainda que limitada, como sustentáculo para a construção e solidificação de um trabalho.
È forçoso ressaltar um fato! Comandar uma unidade de polícia em um estado seja ela qual for, demanda tempo: Tempo pra conhecer a sua geografia, tempo pra aprender os seus costumes, tempo pra falar o sotaque do seu povo, tempo para conviver com suas crenças, enfim, tempo para compreender os anseios da população.
A sociedade Sergipana, famosa por ser pacífica, ordeira e por contribuir e se inteirar com os representantes das instituições públicas que formam o estado de direito, não merece o que vem acontecendo em sua área de circunscrição de polícia judiciária da união. Há uma verdadeira “dança das cadeiras” no comando regional, em que comandantes chegam a passar apenas alguns meses no cargo, saindo posteriormente pelos mais variados motivos, colocando em cheque os interesses pessoais X as razões “ex ofício”.
Não vislumbramos atacar os intentos pessoais dessas autoridades em traçar estratégias para alavancar as suas carreiras e sim o viés político, vez que eles não têm culpa de o sistema ser permissivo nesse aspecto.
O que não se pode conceber é a sociedade ficar atônita com esta constante alternância de comando e policiais locais(tanto os filhos da terra quanto os que a abraçaram como naturalidade de coração, para cá trazendo suas famílias e multiplicando-as), trabalharem em meio a esta instabilidade técnica de dirigibilidade do órgão. O que dizer dos chefes de setores que se vêem em permanente ameaça, pois, naturalmente, todo dirigente recém empossado lança mão de um rodízio e/ou renovação de chefias, sob pena de não deixar o seu cartão de visitas.
Na contra–mão dos fatos, interesses precípuos vão ficando para trás, tais como: Treinamento de pessoal, valorização de toda uma classe, entendimentos e estudos sobre uma nova lei orgânica, construção de uma sede própria, etc. etc.
Some-se a isto, os gastos com o erário público no vai–vem sem fim das remoções de ofício.
Com efeito, urge trazer a sociedade a esta discussão. É preciso que vozes se levantem contra esta anomalia. Sergipe não deseja e não merece servir de trampolim para as carreiras dos “Doutores”. Temos aqui policiais competentes e experientes em todas as carreiras - e aqui não cabe o discurso maniqueísta de que uma carreira seja de todo boa e outra de todo má, competente ou incompetente – para assumir o comando quando necessário for, pois de fato é o que acaba acontecendo.
Não há sentido mais a confecção de convites para posses, em que empossandos decoram e vociferam em seus discursos algumas peculiaridades regionais como nomes de Rios e de Sergipanos ilustres e brevemente nos deixam sem saber do que se tratam palavras como: Canindé, Indiaroba, Japoatã e Carira, para não falar de Cumbe, Vaca Serrada, Pedra Mole, etc. Quem é Sergipano ou conhece bem o estado sabe do que estamos falando.
Idiossincrasias à parte, o fato é que a Direção Geral preocupou-se em delimitar o tempo máximo de permanência de um superintendente em uma unidade regional (03 anos), esquecendo-se do tempo mínimo, para que ele possa exercer não só o poder, mas autoridade, não só a chefia, mas a liderança, enfim, para conquistar a confiança e a credibilidade de uma sociedade, sem correr o risco de contribuir para o estiolamento do bom conceito de que goza o DPF hodiernamente.
Necessitamos de comandantes que assumam com o propósito de contribuir com a segurança pública local e que se identifiquem com o povo, que cumpram a sua jornada lançando mão, preferencialmente, do tempo máximo permitido, pois, se contrário forem, “QUE SEJAM EFÊMEROS ENQUANTO DUREM!”.
FLÁVIO LUÍS ALMEIDA LISA, é Agente de Polícia Federal, Bacharel em Direito e Vice-Presidente do Sindicato de Policiais Federais do Estado de Sergipe.
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