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CIA inclui Brasil no grupo de potências em 15 anos

17/01/2005

CIA inclui Brasil no grupo de potências em 15 anos A emergência de quatro países como influentes atores globais - China, Índia, Brasil e Indonésia - e, principalmente, uma potencial forte aliança entre eles farão surgir não apenas um novo e poderoso bloco como também provocará transformações significativas na geopolítica mundial ao longo dos próximos 15 anos.

Nesse período, a hegemonia dos Estados Unidos sofrerá desgastes, tornando-se mais vulnerável ao que acontecer em outros países na medida em que se aprofundarão as conexões no comércio global. A Europa terá de adaptar sua força de trabalho, sob o risco de enfrentar um período de prolongada estagnação econômica. E instituições como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial correrão o risco de se tornarem obsoletas se não se ajustarem às mudanças que serão provocadas pelo surgimento desse novo pólo de poder.

Essa é a conclusão de um amplo e minucioso estudo que acaba de ser feito pelo Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos (NIC, na sigla em inglês), que reúne as 15 agências de inteligência do país e é coordenado pela CIA, a Agência Central de Inteligência. A coleta de dados e a sua interpretação foram realizadas para indicar ao governo americano os riscos que tem pela frente, e sugerir maneiras de se lidar com a nova ordem mundial.

Brasil em posição privilegiada

O documento final, sob o título "Mapeando o futuro global", traça as perspectivas mundiais até 2020, apontando China e Índia como os dois principais fatores das mudanças que já estão se desenvolvendo, e que culminarão numa reviravolta sócio-político-financeira.

"As potências arrivistas - China, Índia, e talvez outras como Brasil e Indonésia - poderão promover um novo conjunto de alinhamentos internacionais, marcando potencialmente uma ruptura definitiva de algumas instituições e práticas pós-Segunda Guerra", diz um trecho do estudo obtido pelo GLOBO, e que deverá ser divulgado esta semana pelo NIC. As sugestões dos analistas que servirão de base à reavaliação da política externa americana, diante das previsões contidas no estudo, permanecerão sigilosas.

A projeção da China, da Índia, do Brasil e da Indonésia no cenário mundial é apontada como algo semelhante ao advento da Alemanha unida no século XIX e ao poder obtido pelos EUA no século XX. O século XXI, segundo analistas, pode ser visto como a era em que a Ásia, liderada por China e Índia, passará a ser uma verdadeira potência - graças a uma combinação de alto crescimento econômico, expansão de suas capacidades militares e força de trabalho de suas grandes populações.

A avaliação diz ainda que embora China, Índia, Brasil e Indonésia tenham um impacto geopolítico mais limitado, o seu crescimento econômico e uma potencial aliança entre eles "vão criar uma nova paisagem". China e Índia se tornarão líderes tecnológicos, e as corporações multinacionais terão suas principais bases em China, Índia e Brasil.

O documento diz ainda que "as empresas se tornarão globais e as corporações ficarão cada vez mais fora do controle de qualquer Estado", acrescentando que elas serão responsáveis pela "disseminação da tecnologia, o que vai integrar mais a economia mundial e promover o progresso econômico no mundo em desenvolvimento".

Outro trecho assinala que "China, Índia, Brasil e Indonésia têm o potencial de tornar obsoletas as antigas categorias de Leste e Oeste, Norte e Sul, alinhados e não-alinhados, desenvolvidos e em desenvolvimento. Tradicionais grupamentos geográficos cada vez mais perderão destaque nas relações internacionais."

O Brasil é definido nesse quadro como "um país com vibrante democracia, economia diversificada e população empreendedora, um grande patrimônio nacional e sólidas instituições econômicas". Os analistas do NIC insinuam que o Brasil estaria numa posição privilegiada pois continuará sendo encarado como "um parceiro natural tanto dos EUA quanto da Europa, quanto das potências emergentes China e Índia, "e tem ainda o potencial de aumentar a sua influência como um grande exportador de petróleo".

Eles dizem que o sucesso ou o fracasso do Brasil "em equilibrar medidas pró-crescimento econômico com uma ambiciosa agenda social, que reduza a pobreza e a desigualdade de renda, terá um profundo impacto no comportamento econômico de toda a região e de seus governos durante os próximos 15 anos".

O documento prevê que o Produto Interno Bruto da China será maior do que o de todas as potências ocidentais ao longo dos próximos 15 anos, ficando abaixo apenas do PIB dos EUA. O da Índia vai suplantar ou, no mínimo, será igual ao das economias européias. Em 2020, a China terá uma população de 1,4 bilhão de pessoas e a da Índia será de 1,3 bilhão, "mas o seu padrão de vida não precisará se aproximar dos níveis ocidentais para que estes países se tornem importantes potências econômicas", diz um trecho do estudo.

A economia do Brasil poderá ser igual à dos países ricos da Europa, e a da Indonésia se aproximará desse índice. Assim como a Europa, o Japão e a Rússia sofrerão a crise do envelhecimento de sua população e do baixo índice de nascimentos. Segundo o estudo, apesar de a economia mundial continuar crescendo "de forma impressionante" até 2020 - ela deverá ser 80% maior do que a de 2000 e a média per capita será 50% mais alta -, os benefícios da globalização não serão gerais.

O estudo também faz um alerta: "governos frágeis, economias atrasadas, extremismo religioso e o crescimento da juventude vão se alinhar para criar uma tempestade perfeita para conflitos internos em várias regiões. Alguns deles, particularmente os que envolvem grupos étnicos além das fronteiras nacionais, criarão o risco de uma escalada de conflitos regionais".

José Meirelles Passos

Fonte: O Globo e Agência O Globo

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